As Quatro Dívidas de Gratidão

As Quatro Dívidas de Gratidão
Edição 557 - Publicado em 24/Janeiro/2015 - Página 56

Resumo e Cenário Histórico
Nichiren Daishonin escreveu esta carta durante o exílio em Ito, na península de Izu. Foi endereçada a Kudo Sakon-no-jo Yoshitaka, conhecido também como Kudo Yoshitaka, o senhor feudal de Amatsu, na província de Awa.
Acredita-se que Kudo Yoshitaka tenha se convertido aos ensinamentos de Nichiren Daishonin por volta de 1256, quase na mesma época que Shijo Kingo e Ikegami Munenaka, poucos anos depois de Daishonin ter declarado pela primeira vez seu ensinamento. Enquanto Daishonin esteve exilado em Izu, Yoshitaka enviou-lhe doações e manteve pura fé. Ele morreu defendendo Daishonin durante a Perseguição de Komatsubara, no décimo primeiro mês de 1264. As Quatro Dívidas de Gratidão são a única carta remanescente que Nichiren Daishonin endereçou a ele.
Nessa carta, considerando a razão de seu banimento, Nichiren Daishonin expressa a convicção de que ele próprio é o verdadeiro praticante do Sutra do Lótus. Menciona “duas importantes questões” que se referem a seu exílio em Izu. Daishonin declara: “Uma é que sinto imensa alegria”, e explica as razões para tal alegria. A maior parte da carta consiste nessa explicação. A seguir, ele diz: “A segunda das duas importantes questões é que sinto intensa tristeza”. Citando passagens do Sutra do Lótus e do Sutra da Grande Compilação – que revelam a gravidade do crime de caluniar a Lei e seus seguidores –, Daishonin esclarece que ele lamenta só de pensar no grande efeito cármico que os executores desses atos deverão receber. Essa é a parte conclusiva da carta.
Na parte principal do escrito, Daishonin apresenta duas razões para sua “imensa alegria”. Uma é que ele pôde confirmar para si próprio ser o devoto do Sutra do Lótus, cumprindo a predição do Buda feita no sutra de que o seu devoto nos Últimos Dias da Lei encontraria perseguições. A outra razão é que, ao ser banido em prol do sutra, ele pôde saldar as quatro dívidas de gratidão. Daishonin declara que o regente que o condenou ao exílio é justamente a pessoa a quem mais deve ser grato; pois graças a ele, conseguiu comprovar as palavras do Sutra do Lótus e confirmar para si mesmo ser o verdadeiro devoto.
Daishonin frisa ainda a importância de saldar as quatro dívidas de gratidão apresentadas no Sutra sobre a Contemplação da Mente como Solo. As quatro dívidas de gratidão são débitos com todos os seres vivos, com o pai e a mãe, com o soberano e com os três tesouros – o Buda, a Lei e a Ordem budista. Entre essas quatro dívidas de gratidão, Daishonin enfatiza em especial a dívida com os três tesouros – sem os quais é impossível atingir o estado de buda.
Frase 1

Aquele que estuda os ensinamentos do budismo não deve deixar de saldar as quatro dívidas de gratidão. De acordo com o Sutra sobre a Contemplação da Mente como Solo,1 a primeira das quatro dívidas é aquela assumida com todos os seres vivos. Se não fosse por eles, seria impossível fazer o voto de salvar inúmeros seres vivos. Além disso, se não fosse pelas pessoas más que perseguem os bodisatvas, como estes poderiam desenvolver virtudes?
A segunda das quatro dívidas é aquela que as pessoas têm para com o pai e a mãe. Para nascer nos seis caminhos, é preciso ter pais. Se uma pessoa nasce na família de um assassino, um ladrão, um transgressor das normas de conduta correta, ou na de um caluniador da Lei, então, mesmo que ela própria não tenha cometido esses crimes, forma o mesmo carma daqueles que as cometeram. Com relação a meus pais nesta existência, eles não somente me deram a vida como fizeram de mim um seguidor do Sutra do Lótus. Portanto, devo a eles muito mais do que deveria se tivesse nascido na família de Brahma, Shakra, de um dos quatro reis celestiais, ou de um rei girador da roda e, consequentemente, tivesse herdado o mundo tríplice ou os quatro continentes e sido reverenciado pelos quatro tipos de seguidores nos mundos de seres humanos e celestiais.
A terceira é a dívida para com o soberano. Graças a ele, uma pessoa pode aquecer o corpo nos três tipos de luz celestial2 e sustentar a vida com os cinco tipos de grãos3 que crescem na terra. Além disso, nesta existência, tomei fé no Sutra do Lótus e encontrei um regente que me possibilitará libertar-me dos sofrimentos do nascimento e da morte ainda nesta vida. Portanto, por que ficar insistindo no mal insignificante que o regente me causou e negligenciar minha dívida para com ele? (CEND, v. I, p. 44).
Explanação
A profunda gratidão de Daishonin mesmo àqueles que o perseguiram
Nesse trecho, Daishonin explica as quatro dívidas de gratidão, ou seja, as dívidas de gratidão devidas (1) a todos os seres vivos, (2) aos pais, (3) ao soberano, e (4) aos três tesouros do budismo.4
A primeira das quatro dívidas de gratidão é aquela com todos os seres vivos. Por eles existirem, podemos fazer o juramento de “salvar inúmeros seres vivos”, que é um dos quatro juramentos dos bodisatvas.5 Além disso, sem obstáculos e dificuldades causados pela oposição de forças hostis, como os praticantes do Sutra do Lótus poderiam desenvolver suas virtudes? Esta é outra razão para se nutrir gratidão por todos os seres vivos, diz Daishonin (cf. CEND, v. 1, p. 44).
A segunda dívida é com seus pais. Os pais trabalham e trabalham duro para criar seus filhos, por esse motivo, os filhos têm uma grande e incomparável dívida de gratidão com eles. Nichiren Daishonin observa que seus pais lhe deram à luz e isso possibilitou que ele se tornasse um seguidor do Sutra do Lótus (cf. Ibidem, p. 45).
A terceira é a dívida com o soberano — que pode ser interpretado como as funções que governam a terra e produzem alimentos e outros recursos que necessitamos para sustentar a nossa vida. Daishonin expressa quanto é grato à nação que, por persegui-lo, lhe permitiu atingir o estado de buda (cf. Ibidem, p. 45).
Vamos ponderar uma vez mais por que a gratidão é tão importante. A resposta é que ela pode ser um trampolim para nos ajudar a superar nosso eu inferior e os estreitos limites dos nossos interesses pessoais.
Nos ensinamentos expostos antes do Sutra do Lótus, Shakyamuni citou a falta de gratidão como a razão pela qual as pessoas dos dois veículos — isto é, os ouvintes da voz e aqueles que despertaram para a causa — não poderiam atingir a iluminação. Em outro escrito, intitulado Carta para Horen, Nichiren Daishonin afirma: “Dizem que as pessoas dos dois veículos são indivíduos que não sabem como saldar as dívidas de gratidão; e afirma-se que jamais poderão atingir o estado de buda” (CEND, v. 1, p. 536).
Sem esse espírito de gratidão, as pessoas dos dois veículos não eram capazes de superar seu egocentrismo. Elas não podiam reconhecer que todas as pessoas possuem a natureza de buda. Consequentemente, não eram capazes de revelar seu próprio estado de buda inato nem experimentar a alegria de ajudar os outros a fazer o mesmo.
Da mesma forma aconteceu com Shariputra,6 discípulo de Shakyamuni, que numa existência passada abandonou a prática de bodisatva porque foi incapaz de suportar a rancorosa atitude do brâmane a quem ele ofereceu seu olho.7 Quando seu ato altruísta foi rejeitado e ridicularizado, Shariputra viu-se incapaz de manter sua dedicação em ajudar os outros e caiu na armadilha de buscar a iluminação somente para si.
Também em Carta para Horen, Daishonin escreve: “Entre os seres vivos dos seis caminhos e das quatro formas de nascimento,8 há tanto homens quanto mulheres. E todos esses homens e todas essas mulheres foram nossos pais em algum momento de nossas existências anteriores” (Ibidem). Todo mundo que encontramos nesta vida é alguém com quem temos uma dívida de gratidão de existências anteriores.
Como praticantes do Budismo de Nichiren Daishonin, nós nos esforçamos para apoiar nossos companheiros e ajudá-los a se tornarem felizes, pois lhes devemos enorme dívida de gratidão. Se perdermos de vista esse importante espírito de “prática para os outros”, nós nos fecharemos em nosso próprio mundo repleto somente com nossos interesses. Nossa prática budista é, em certo sentido, uma luta para superar tal egocentrismo. Sem nutrir gratidão aos outros, não podemos esperar concretizar nossa revolução humana.
A vida nos oferece uma interminável série de desafios. Neste mundo saha, precisamos ter paciência e persistência, e estas são sustentadas por um espírito rico e profundo de apreço e por um grande desejo de retribuir nossa gratidão.
No 13º capítulo do Sutra do Lótus, “Encorajamento à Devoção”, encontramos a seguinte passagem: “Nós, que reverenciamos e confiamos no Buda, vestiremos a armadura da perseverança” (LSOC, cap. 13, p. 233 [LS, cap. 13, p. 194]). 9
Os autênticos discípulos jamais fogem da sua responsabilidade pelo kosen-rufu, não importa quantas críticas injustas e infundadas sejam feitas a eles e independentemente de seus esforços serem reconhecidos ou não. Dialogando internamente com seu mestre, eles se preocupam com a felicidade dos outros e se dedicam incansavelmente para demonstrar sua enorme gratidão ao mestre. Por meio desses esforços, eles se desenvolvem, tornando-se capazes de sentir apreço por tudo na vida, atingem um expansivo estado de buda e desfrutam de uma felicidade incomparável.
Frase 2

A quarta é a dívida aos três tesouros.10 Quando Aquele que Assim Chega Shakyamuni engajou-se nas práticas de bodisatva por incontáveis kalpa, ele reuniu toda a boa sorte e as virtudes acumuladas, dividiu-as em sessenta e quatro partes, das quais reservou apenas uma parte para si próprio. As sessenta e três partes restantes, ele deixou neste mundo, sob a seguinte promessa: “Haverá uma era em que as cinco impurezas se tornarão excessivas, os ensinamentos errôneos florescerão e os caluniadores povoarão a terra. Nessa era, pelo fato de as várias divindades protetoras serem incapazes de experimentar o sabor da Lei, a grandiosidade e a força delas diminuirão. O Sol e a Lua perderão o brilho, os dragões celestiais não mais enviarão chuva e as divindades terrenas diminuirão a fertilidade do solo. As raízes e os caules, os ramos e as folhas, e as flores e os frutos perderão as propriedades medicinais como também os sete sabores.11 Mesmo aqueles que se tornaram reis por terem observado os dez bons preceitos em existências prévias se entregarão à avareza, à ira e à estupidez. As pessoas deixarão de prestar obediência aos pais, e os seis tipos de parentes12 entrarão em desavenças. Numa época assim, meus discípulos serão pessoas incultas e sem preceitos. Por esta razão, mesmo que raspem a cabeça, eles serão abandonados sem nenhum meio de subsistência pelas divindades protetoras. É com a finalidade de sustentar esses monges e monjas [que agora deixo essas sessenta e três partes]”.
A respeito dos benefícios que o Buda obteve como resultado de suas práticas, ele os dividiu em três partes, dos quais ele próprio fez uso de apenas duas. Por esta razão, apesar de ter vivido neste mundo por cento e vinte anos, faleceu aos oitenta e nos legou os quarenta anos restantes de sua vida.13
Mesmo que reuníssemos toda a água dos quatro grandes oceanos para umedecer pedras de tinta, que queimássemos todas as árvores e plantas para fazer barras de tinta, que coletássemos o pelo de todos os animais para fazer pincéis, que empregássemos todas as superfícies dos mundos das dez direções como papel e, com tudo isso gravássemos expressões de gratidão, como poderíamos saldar nossa dívida ao Buda?
Em relação à dívida de gratidão para com a Lei, é importante ressaltar que a Lei é o mestre de todos os budas. É por causa da Lei que os budas são dignos de respeito. Portanto, aqueles que desejam saldar seu débito com o Buda devem primeiro liquidar sua dívida com a Lei.
Quanto à dívida de gratidão para com a Ordem budista, tanto o tesouro do Buda como o tesouro da Lei são invariavelmente perpetuados pela Ordem. Exemplificando, não pode haver fogo sem lenha; e se não há terra, as plantas e as árvores não podem crescer. Da mesma forma, ainda que o budismo exista, sem os membros da Ordem que o estudam e o propagam, ele jamais teria sido transmitido pelos dois mil anos dos Primeiros e Médios Dias até os Últimos Dias da Lei. (CEND, v. I, p. 46)
Explanação
A importância da transmissão
dos ensinamentos
A quarta dívida de gratidão é devida aos três tesouros; em outras palavras, ao Buda, à Lei (os ensinamentos do Buda) e à Ordem budista (à comunidade de praticantes).
Aqui, evidentemente, “Buda” diz respeito a Shakyamuni. Então, Nichiren Daishonin compartilha um episódio da vida de Shakyamuni: “A respeito dos benefícios que o Buda obteve como resultado de suas práticas, ele os dividiu em três partes, dos quais ele próprio fez uso de apenas duas. Por esta razão, apesar de ter vivido neste mundo por cento e vinte anos, faleceu aos oitenta e nos legou os quarenta anos restantes de sua vida” (CEND, v. I, p. 45). Como se pode supor a partir desse trecho, a vida benevolente de Shakyamuni foi totalmente dedicada à Lei e à felicidade de todas as pessoas.
A dívida de gratidão com o Buda é verdadeiramente imensa e profunda e se estende também à Lei e à Ordem budista. Daishonin explica que a Lei, como fonte fundamental da iluminação, é o mestre de todos os budas. Para retribuir nossa dívida de gratidão com o Buda, afirma ele, é preciso primeiro quitar nossa dívida de gratidão com a Lei, ou os ensinamentos. Ele observa ainda que sem os membros da Ordem budista ou a comunidade de praticantes, que estudam os ensinamentos do Buda e os transmitem, o Tesouro do Buda e o Tesouro da Lei não poderiam ser repassados para a sociedade nem trazer benefício para as pessoas. Com uma metáfora, Daishonin compara os Tesouros do Buda e da Lei com as plantas e as árvores e o da Ordem budista, com a terra a partir da qual os primeiros crescem (cf. Ibidem).
No contexto desta carta, podemos dizer que a Ordem budista se refere especificamente ao devoto do Sutra do Lótus, isto é, a Nichiren Daishonin. Além disso, o Sutra do Lótus foi exposto para todas as pessoas após a morte de Shakyamuni. A menos que um verdadeiro devoto do Sutra do Lótus surgisse nos Últimos Dias da Lei, o Sutra do Lótus seria falso. Isso resultaria no fim do budismo. Sem terra, não pode existir plantas nem árvores.
Devemos reconhecer, portanto, que Daishonin é o verdadeiro devoto. Quando as pessoas dos Últimos Dias confiarem nele e fizerem de seus ensinamentos a terra fértil ou a base de sua existência, com grande energia e vitalidade, serão capazes de fazer florir em sua vida uma felicidade incomparável e criar uma sociedade que incorpora o ideal do estabelecimento do ensinamento correto para a paz da nação.
É importante compreender corretamente o verdadeiro significado de Ordem budista. A palavra em sânscrito empregada no original é sangha,14 que significa reunião, assembleia ou grupo. Uma pessoa se qualifica como membro de um sangha, não por atitudes superficiais, como tonsurar a cabeça ou vestir indumentárias clericais como um sacerdote, mas sim pelo fato de proteger genuinamente e transmitir os ensinamentos do budismo. Em termos atuais, no âmbito do Budismo de Nichiren Daishonin, o Tesouro da Ordem budista não é outro senão a reunião dos membros na SGI — um corpo harmonioso de praticantes que lutam com o espírito de unicidade de mestre e discípulo pelo kosen-rufu, tal como Daishonin ensina.
Nichiren Daishonin revelou a Lei do Nam-myoho-renge-kyo, a Lei fundamental que está contida em tudo no universo. Ele leu o Sutra do Lótus com a sua vida e nos legou a realização do kosen-rufu pelo eterno futuro. O Gosho, uma preciosa coleção de seus escritos, é um registro de como ele leu o sutra com a vida, e é também fruto de sua ilimitada benevolência pelos demais.
Na atualidade, somente nós, da SGI, lemos o Gosho com a nossa vida e realmente traduzimos os ensinamentos de Nichiren Daishonin em ação. Makiguchi Sensei e Toda Sensei ensinaram, por meio de seus próprios exemplos de vida, a verdadeira maneira de ler os escritos de Daishonin. E é por isso que continuamos a admirar a grandiosidade deles.
1. Sutra sobre a Contemplação da Mente como Solo: Sutra traduzido por Prajna, monge indiano que foi para a China em 781. Seu oitavo e último volume diz que o estado atingido pelos budas, bodisatvas, pelos que despertaram para a causa, pelos ouvintes da voz que não têm mais a aprender (arhat) e pelos ouvintes da voz ainda em processo de aprendizado — todos têm origem na mente das pessoas comuns. Assim, ele compara a mente ao solo que produz grãos. O sutra também define as quatro dívidas de gratidão — devidas aos pais, a todos os seres vivos, ao soberano, e aos três tesouros do budismo — e exalta os benefícios de se observar a mente em um lugar calmo e remoto. 2. Três tipos de luz celestial: A luz do Sol, da Lua e das estrelas. 3. Cinco tipos de grãos: Trigo, arroz, feijão e dois tipos de milho. Também um termo genérico para todos os tipos de grãos. 4. Quatro dívidas de gratidão: Esta é a versão mais comum sobre as quatro dívidas de gratidão e é baseada no Sutra sobre a Contemplação da Mente como Solo, mas, em Saldar as Dívidas de Gratidão, Daishonin apresenta as quatro dívidas de gratidão como: (1) aos pais, (2) ao mestre, (3) aos Três Tesouros do budismo, e (4) ao país — provavelmente porque estava motivado a compor esse trabalho para expressar sua gratidão ao falecido Dozen-bo, seu mestre ao entrar para o sacerdócio (cf. CEND, v. I, p. 762). 5. Quatro juramentos universais: Também “quatro grandes juramentos” ou simplesmente “quatro juramentos”. Quatro votos que os bodisatvas fazem quando decidem iniciar a prática budista. Esses votos são: (1) salvar inumeráveis seres vivos, (2) erradicar incontáveis desejos mundanos, (3) dominar incalculáveis ensinamentos budistas e (4) alcançar a iluminação suprema. 6. Shariputra: Um dos dez principais discípulos de Shakyamuni, que ficou conhecido por sua sabedoria em compreender a verdadeira intenção da pregação do Buda. 7. Essa história é encontrada no Tratado sobre a Grande Perfeição da Sabedoria. No distante passado, Shariputra, exercendo o caminho do bodisatva, empenhou-se na prática em oferecer donativos. Após ter feito essa prática por sessenta kalpa, um brâmane veio até ele e implorou por seu olho. (O Tratado sobre a Grande Perfeição da Sabedoria não retrata esse mendigo como um brâmane, mas em referências posteriores ele é muitas vezes descrito como tal.) Shariputra arrancou um de seus olhos e deu a ele. Mas o brâmane ficou tão revoltado com o cheiro do olho que cuspiu nele, atirou-o ao chão e o pisoteou. Vendo isso, Shariputra pensou que era muito difícil salvar essas pessoas e decidiu buscar apenas a própria libertação dos sofrimentos do nascimento e da morte, ele retirou-se da prática de bodisatva, contentando-se com o caminho dos ouvintes da voz. 8. Quatro formas de nascimento: Classificação das diversas formas de vir à existência: (1) nascimento a partir do ventre, (2) nascimento a partir de ovos, (3) nascimento a partir da umidade (como se acreditava que as larvas eram geradas) e (4) nascimento por transformação, ou seja, espontaneamente, sem a intervenção de ventre, ovos e umidade. Acreditava-se que, depois de suas vidas passadas acabarem, tais seres apareciam de repente desta forma devido ao seu carma, sem a existência dos pais ou quaisquer outros organismos. A expressão “quatro formas de nascimentos” aparece frequentemente em conjunto com os “seis caminhos”, como “transmigração nos seis caminhos e as quatro formas de nascimento” e “os seres viventes dos seis caminhos e as quatro formas de nascimento”. 9. O 13º capítulo do Sutra do Lótus, “Encorajamento à Devoção”, afirma: “Em um kalpa lamacento, numa época maléfica, / Haverá muitas coisas a temer. / Demônios se apossarão das pessoas / E por meio da ação maligna deles, as pessoas nos insultam e nos desrespeitam. / Mas nós, que reverenciamos e confiamos no Buda, / vestiremos a armadura da perseverança. / Para pregar este sutra / Vamos suportar essas coisas difíceis. / Não nos preocupamos com nosso corpo ou vida / mas desejamos apenas o caminho absoluto. / Nas épocas que virão, nós protegeremos e defenderemos / o que o Buda nos confiou” (LSOC, cap. 13, p. 233 [LS, cap. 13, p. 194-195]). 10. Três tesouros: Também “três joias”. Três elementos fundamentais do budismo: o Buda, a Lei (ou Darma, os ensinamentos do Buda) e a Ordem (ou sangha, a comunidade de seguidores). O Buda é aquele que despertou para a verdade da vida e do universo. A Lei é a que indica os ensinamentos que o Buda expôs para conduzir as pessoas à iluminação. A Ordem, refere-se ao grupo de pessoas que praticam os ensinamentos do Buda e preservam a Lei transmitindo-a para as futuras gerações. 11. Sete sabores: Sabores doce, picante, azedo, amargo, salgado, adstringente e suave. 12. Seis tipos de parentes: o pai, a mãe, o irmão mais velho, o irmão mais novo, a esposa e o filho ou a filha. Segundo outra classificação: o pai, o filho ou a filha, o irmão mais velho, o irmão mais novo, o marido e a esposa. 13. A fonte dessa declaração é imprecisa. Presume-se que esteja embasada na passagem do Sutra da Grande Compilação. 14. Sangha: Em japonês, esse termo é escrito com o ideograma chinês so, que originalmente significa apenas sangha, mas mais tarde passou a ser usado para se referir aos sacerdotes. Por causa disso, muitas vezes é mal interpretado como se somente se referisse aos sacerdotes.


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